AUTORAL entrevista Emília Alves, a propósito do lançamento do livro “16 autores”, edição conjunta de poetas contemporâneos.
AA – Ao ler os seus poemas, sentimos que procura neles refletir a alma - ou não fosse isso a matéria da poesia - uma alma vincadamente feminina, plena de alusões românticas. É assim, ou estamos perante uma fase transitória da sua escrita poética?
EA – Quanto à questão que me coloca, prefiro utilizar o termo “diferente” em vez de “transitório”, pois a escrita, a minha, é influenciada, direta ou indiretamente, pelas circunstâncias da vida, pelas vivências, pelas aprendizagens que daí advêm. Ao selecionar estes textos, segui uma linha de pensamento, privilegiei, pelos vistos, uma temática: “a alma vincadamente feminina, plena de alusões românticas”.
AA – Naturalmente que o que escreve agora – e o que nos foi dado a ler é recente (apenas um dos textos não refere data) – reflete um amadurecimento das palavras. A ser assim, o sopro da escrita vem de longe. Lembra-se do que começou por escrever?
EA – Escrever fez parte dos meus hábitos, a partir da adolescência. Até então, era a leitura que me acompanhava, que me acompanhou e acompanha desde que aprendi a ler. Na escrita, comecei por um diário. Normal! Naquela altura, todos ou quase todos, as raparigas sobretudo, tinham um diário com um pequeno cadeado por uma questão de segurança, de direito à privacidade. Passei depois a rabiscar uns textos sobre as amizades, as normais e as “coloridas”, as habituais preocupações da adolescência, a distância, a separação (sou filha de emigrantes) … Textos simples, próprios daquela idade e em língua francesa na sua maioria, pois esta é, por assim dizer, a minha “segunda” língua mãe.
AA – A edição em livro da sua poesia traz-lhe uma responsabilidade acrescida. Intimida-a, o facto de se expor assim?
EA – Uma responsabilidade acrescida? Talvez sim, talvez não porque já escrevia, postava textos numa rede social, já tinha publicado um ou outro num jornal, já tinha participado em concursos, em três, acho eu. Prefiro pensar que se trata de uma nova experiência, de um passo em frente que daria mais cedo ou mais tarde, neste ou noutros moldes. Aconteceu agora, sob o incentivo de um amigo e colega que acreditou.
A exposição intimida-me, sem dúvida. Sendo uma pessoa reservada, não foi de ânimo leve que abri uma porta, uma janela de um mundo restrito, privado, meu e não só. Sentir-me-ei certamente constrangida se as pessoas, os leitores me associarem ao “eu” presente nos textos, embora entenda a dificuldade em fazer essa separação. Há algo para além disso. Há muito para além de mim.
AutorAl agradece à autora a simpatia das suas “palavras soltas”.
Outubro de 2015